O engano, a traição e a esquerda: O prémio “Traidor do Ano”
por James Petras
Enquanto a direita apoia fielmente as políticas e
interesses dos seus apoiantes da classe dominante, a esquerda tem traído
sistematicamente as promessas da sua plataforma política e enganado a
classe trabalhadora, os empregados assalariados, os pequenos negócios e
os seus apoiantes regionais.
Inversões históricas têm acontecido em rápida sucessão por parte de
líderes de esquerda, incluindo maior controle oligárquico sobre a
economia, dominação política mais ditatorial pelas potências imperiais
(EUA, UE), aumento de desigualdades e pobreza e apoio “de esquerda” a
guerras imperiais.
Em alguns casos líderes de esquerda foram além dos seus oponentes de
direita ao aprovarem políticas reaccionários ainda mais extremas depois
de assumir o poder.
Neste ensaio identificaremos alguns dos vira-casacas de esquerda: Os “Campeões da Traição”.
A seguir faremos a revisão das suas inversões políticas e as consequências para a sua classe trabalhadora e apoiantes rurais.
Em terceiro lugar, apresentaremos um estudo de caso do pior traidor
“de esquerda” do mundo de hoje: Alexis Tsipras, primeiro-ministro da
Grécia.
Na secção final, discutiremos algumas das possíveis explicações para a tendência de reversões políticas de líderes de esquerda.
“Esquerdistas” vira-casaca do princípio do século XXI
Há numerosos exemplos de antigos movimentos de guerrilha, regimes de
esquerda e líderes políticos que obtiveram apoio popular de massa com a
promessa de transformações radicais de estrutura e que deram meia volta
para abraçar os interesses dos seus adversários oligárquicos e
imperiais.
Uma geração inteira de radicais, das décadas de 1960 e 1970, começou
à esquerda e, durante os anos 80 e 90 acabaram em regimes “centristas” e
de direita – tornando-se até colaboradores da extrema-direita e da CIA.
Antigos combatentes guerrilheiros, que acabaram como centristas e
direitas, tornaram-se ministros ou presidentes no Uruguai, Brasil, Peru,
Equador e Chile.
O comandante da guerrilha de El Salvador, Joaquin Villalobos,
posteriormente colaborou com a CIA e proporcionou “aconselhamento” aos
“esquadrões da morte” do presidente da Colômbia.
A lista dos traidores do fim do século XX é longa e lúgubre. Suas
traições políticas provocaram grande sofrimentos à massa dos seus
apoiantes os quais sofreram perdas sócio económicas, repressão política,
prisões, torturas, morte e uma profunda desconfiança em relação a
intelectuais e líderes políticos “de esquerda”, assim como às suas
“promessas”.
O século XXI: Começar à esquerda e acabar à direita
A primeira década do século XXI testemunhou uma revitalização de
regimes e partidos políticos de esquerda na Europa e na América Latina.
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), conduzidas
pelo grande líder camponês Manuel Marulanda, tinham 20 mil combatentes e
milhões de apoiantes. Em 1999, ela havia avançados para os arrabaldes
da capital, Bogotá. A realidade hoje é uma inversão dramática.
Em França, o Partido Socialista adoptou um programa de esquerda e em
2012 elegeu François Hollande como presidente. Ele prometeu aumentar os
impostos sobre os ricos para 75% a fim de financiar um programa maciço
de empregos. Ele prometeu estender a legislação progressista do trabalho
e defender as indústrias nacionais. Hoje a sua credibilidade está
próxima do zero.
Por toda a América Latina, gente de esquerda foi eleita para
encabeçar governos, incluindo o Brasil, Argentina, Peru, Uruguai,
Bolívia, Venezuela, Equador e El Salvador. Com a possível excepção da
Bolívia e do Equador, eles foram removidos pelos seus parceiros ou
oponentes de direita.
Em Espanha, Portugal e Grécia emergiram novos partidos radicais de
esquerda com promessas de acabar com os brutais programas de austeridade
impostos pela União Europeia e lançar profundas transformações
estruturais, com orientação de classe. Aqui a história está a repetir-se
com outra série de traições.
As FARC: Da revolução à rendição
Em Junho de 2017 a liderança das FARC desarmou seus combatentes,
abandonando milhões de apoiantes camponeses em regiões anteriormente sob
o seu controle. A assinatura das FARC do Pacto de Paz com o regime
Santos não leva nem à paz nem a um pacto real. Dúzias de activistas já
estão a ser assassinados e centenas de pessoas de esquerda e camponeses
fogem para salvar a vida devido aos esquadrões da morte ligados ao
regime Santos. Verificaram-se assassinatos ao logo do processo de
negociação e posteriormente. Combatentes da guerrilha que depuseram as
suas armas agora enfrentam julgamentos em processos farsa(kangaroo trials), enquanto
camponeses que pedem a reforma agrária são expulsos das suas terras.
Combatentes rasos e militantes das FARC são abandonados na selva com
suas famílias sem lares, empregos e segurança em relação aos esquadrões
da morte. As bases militares dos EUA e seus conselheiros permanecem. A
totalidade do sistema sócio-económico está intacta. Só aos “líderes” da
guerrilha que estão em Cuba é garantida segurança, duas confortáveis
poltronas no Parlamento – as quais foram recusadas – e o louvor do
governo estado-unidense.
Os líderes e negociadores chefe das FARC, Ivan Marquez e Timoleon Jimenez, são claros competidores ao “Prémio Traidor do Ano”.
Presidente Hollande da França: Um colaborador imperial despejado pela sanita abaixo
O mandato do presidente François Hollande não foi muito além da
traição da FARC. Ao ser eleito presidente da França em 2012 pelo Partido
Socialista, prometeu “tributar os ricos” em 75%, estender a aprofundar
direitos dos trabalhadores, reduzir o desemprego, reviver indústrias em
bancarrota, impedir a fuga capitalista e acabar com a intervenção
militar da França em países do Terceiro Mundo.
Após um breve namoro com a sua retórica de campanha, o presidente
Hollande avançou violentamente em favor dos negócios e do militarismo,
contra os seus eleitores.
Primeiro, ele desregulamentou as relações dos negócios com o trabalho, tornando mais fácil e mais rápido despedir trabalhadores.
Em segundo lugar, reduziu a tributação dos negócios em €40 mil milhões.
Em terceiro, impôs e depois ampliou um draconiano estado de
emergência a seguir a um incidente terrorista. Isto incluiu a proibição
de greves de trabalhadores a protestarem contra a legislação
anti-trabalho e a taxa de desemprego com dois dígitos.
Em quarto, Hollande lançou ou promoveu uma série de guerras imperiais no Médio Oriente e na África do Norte e Central.
A França sob François Hollande iniciou o bombardeamento da NATO da
Líbia, o assassínio do presidente Kadafi, a destruição total daquele
país e o desenraizamento de milhões de líbios e trabalhadores da África
sub-saariana. Isto levou a uma inundação maciça de refugiados
aterrorizados através do Mediterrâneo e para dentro da Europa com
dezenas de milhares a afogarem-se neste processo.
O projecto neo-colonial do presidente Hollande administrou a
expansão de tropas francesas no Mali (desestabilizado pela destruição da
Líbia) e na República Centro-Africana.
Como claro promotor do genocídio, Hollande vendeu armas e enviou
“conselheiros” para apoiar a grotesca guerra da Arábia Saudita contra o
empobrecido Iémen.
O presidente Hollande aderiu à invasão mercenária dos EUA na Síria,
permitindo a alguns dos mais puros jihadistas da França juntarem-se à
carnificina. Suas ambições coloniais resultaram na fuga de milhões de
refugiados para a Europa e outras regiões.
No fim do seu mandato, em 2017, a popularidade de Hollande havia
declinado para 4%, o mais baixo nível de aprovação eleitoral de qualquer
presidente na história francesa! O único movimento racional que ele fez
em todo o seu regime foi não procurar a reeleição.
Primeiro-ministro grego Alexis Tsipras: “Traidor do ano”
Apesar da árdua competição de outros infames traidores da esquerda
por todo o mundo, o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras vence o
prémio “Traidor global do ano”.
Tsipras merece o título de “Traidor global” porque:
1) Fez a viragem mais rápida e mais brutal da esquerda para a direita do que qualquer dos seus venais competidores.
2) Apoiou a subjugação da Grécia aos ditames dos oligarcas de
Bruxelas quanto a exigências de privatizações, concordando em vender
todo o seu património nacional, incluindo sua infraestrutura, ilhas,
minas, praias, museus, portos, transportes, etc.
3) Ele decretou a mais brutal redução de pensões, salários e
salários mínimos da história europeia, enquanto aumentava drasticamente o
custo de cuidados de saúde, hospitalização e remédios. Ele aumentou o
IVA (imposto sobre o consumo) e impostos sobre importações e sobre o
rendimento agrícola enquanto “olhava para o outro lado” em relação a
impostos de evasores ricos.
4) Tsipras é o único lider eleito a convocar um referendo sobre as
duras condições da UE, recebe um mandato maciço para rejeitar o plano da
UE e então dá meia volta e trai os eleitores gregos em menos de uma
semana. Ele até aceitou condições mais severas do que as exigências
originais da UE!
5) Tsipras reverteu suas promessas de se opor às sanções da UE
contra a Rússia e retirou o apoio histórico da Grécia aos palestinos.
Ele assinou um acordo de mil milhões de dólares sobre petróleo e gás com
Israel, o qual capturou campos petrolífero no offshore de Gaza e na
costa libanesa. Tsipras recusou opor-se ao bombardeamento da Síria pelos
EUA-UE, assim como da Líbia, ambos antigos aliados da Grécia.
Tsipras, como líder do supostamente partido de “esquerda radical” SYRIZA, saltou da esquerda para a direita num piscar de olhos.
A primeira e mais reveladora indicação da sua viragem para a direita
foi o apoio de Tsipras à continuação da Grécia como membro da União
Europeia (UE) e da NATO durante a formação do SYRIZA (2004).
A “esquerda” do SYRIZA balbucia as platitudes habituais que
acompanham a condição de membro da UE, levantando “questões” e
“desafios” vazios enquanto fala de “lutas”. Nenhuma destas frases
“semi-grávidas” faz sentido para qualquer observador que entenda o poder
que os oligarcas dirigidos pelos alemães têm em Bruxelas e sua adesão
rígida à austeridade imposta pela classe dominante.
Em segundo lugar, o SYRIZA tem desempenhado um papel menor, na
melhor das hipóteses, nas numerosas greves gerais e movimentos de
trabalhadores e estudantes que conduziram à sua vitória eleitoral em
2015.
O SYRIZA é um partido eleitoral da classe média baixa, conduzido por
políticos que querem subir na vida e que têm poucas, se é que algumas,
ligações ao chão da fábrica e às lutas agrárias. Suas maiores lutas
parecem revolver-se em torno de guerras internas de facção sobre
assentos no Parlamento!
O SYRIZA era uma colecção frouxa de grupos e facções briguentas,
incluindo “movimentos ecológicos”, seitas marxistas e políticos
tradicionais que flutuaram sobre o moribundo e corrupto Partido
Socialista Pan Helénico (PASOK). O SYRIZA expandiu-se como partido no
princípio da crise financeira de 2008 quando a economia grega entrou em
colapso. De 2004 a 2007 o SYRIZA aumentou sua presença no Parlamento de
3,5% para apenas 5%. Sua falta de participação nas lutas de massa e suas
querelas internas levaram a um declínio nas eleições legislativas de
2009 para 4,6% dos assentos.
Tsipras assegurou que o SYRIZA pemaneceria na UE, mesmo sua
auto-designada “ala esquerda”, a Plataforma de Esquerda, liderada pelo
“académico marxista” Panagiotis Lafazanis, prometeu “manter uma porta
aberta para a saída da UE”. Alexis Tsipras foi eleito primeiramente para
o conselho da municipalidade de Atenas, onde atacou publicamente
colegas corruptos e demagogos enquanto tomava lições privadas de poder
da parte da oligarquia.
Em 2010, o direitista PASOK e o partido de extrema-direita Nova
Democracia concordaram com um bail-out da dívida ditado pela UE que
levou a perdas maciças de empregos e cortes de salários e pensões. O
SYRIZA, que estava fora do poder, denunciou o programa de austeridade e
fez elogios verbais aos protestos maciços. Esta postura permitiu ao
SYRIZA quadruplicar sua representação no parlamento, passando a 16% na
eleição de 2012.
Tsipras saudou [a entrada] de membros corruptos e conselheiros
financeiros do PASOK para dentro do SYRIZA, incluindo Yanis Varoufakis,
que passava mais tempo a andar de motocicleta para bares de luxo do que a
apoiar nas ruas os trabalhadores desempregados.
Os “memorandos” da UE ditavam a privatização da economia, bem como
cortes mais profundos na educação e saúde. Estas medidas foram
implementadas em ondas de choque desde 2010 até 2013. Como partido da
oposição, o SYRIZA aumentou suas cadeiras em 27% em 2013 … uns escassos
3% atrás do partido governante Nova Democracia. Em Setembro de 2014, o
SYRIZA aprovou o Programa Salónica prometendo reverter a austeridade,
reconstruir e estender o estado de bem-estar social, restaurar a
economia, defender empresas públicas, promover justiça fiscal, defender a
democracia (democracia directa, nada menos!) e implementar um “plano
nacional” para aumentar o emprego.
Todo o debate e todas as resoluções revelaram-se como uma farsa
teatral! Uma vez no poder, Tsipras nunca implementou uma única das
reformas prometidas no Programa. Para consolidar o seu poder como chefe
do SYRIZA, Tsipras dissolveu todas as facções tendências em nome de um
“partido unificado” – o que estava longe de ser um passo rumo a maior
democracia!
Sob o controle do “Querido Tio Alexis”, o SYRIZA tornou-se uma
máquina eleitoral autoritária apesar da sua postura de esquerda. Tsipras
insistiu em que a Grécia permaneceria dentro da UE e aprovou um
“orçamento equilibrado” contradizendo toda as suas falsas promessas de
campanha de investimentos públicos para “ampliar o estado de bem-estar
social”!
Um novo bail-out da UE foi seguido por um salto no desemprego de
mais de 50% entre a juventude e de 30% de toda a força de trabalho. O
SYRIZA venceu as eleições parlamentares de 25 de Janeiro de 2015 com
36,3% do eleitorado. Faltando um único voto para assegurar uma maioria
no parlamento, o SYRIZA fez uma aliança com o partido de extrema-direita
ANEL, ao qual Tsipras deu o Ministério da Defesa.
Imediatamente depois de tomar posse, o primeiro-ministro Alexis
Tsipras anunciou seus planos para renegociar com a oligarquia da UE e o
FMI o bail-out da Grécia e o “programa de austeridade”. Este falso
posicionamento não podia ocultar sua impotência. Uma vez que o SYRIZA
estava comprometido a permanecer na UE, a austeridade continuaria e
outro oneroso bail-out se seguiria. Durante “reuniões internas”, membros
da “Plataforma de Esquerda” do SYRIZA no gabinete ministerial apelaram
ao abandono da UE, ao repúdio da dívida e a forjar laços mais estreitos
com a Rússia. Apesar de estarem totalmente ignorados e isolados, eles
permaneceram como um impotente “sinal esquerdista” no gabinete
ministerial.
Com Tsipras agora liberto para impor políticas de mercado
neoliberais, milhares de milhões fluíram para fora da Grécia e os seus
próprios bancos e negócios permaneceram em crise. Tanto Tsipras como a
“Plataforma de Esquerda” recusaram-se a mobilizar a base de massa do
SYRIZA, a qual havia votado em favor da acção e exigiu um fim à
austeridade. O impertinente dos media, o ministro das Finanças
Varoufakis, simulou um espectáculo com grandes gestos teatrais de
desaprovação. Estes foram abertamente descartados pela oligarquia UE-FMI
como travessuras de um impotente palhaço mediterrânico.
Superficiais como sempre, académicos de esquerda canadianos,
estado-unidenses e europeus estavam amplamente inconscientes da história
política do SYRIZA, da sua composição oportunista, da sua demagogia
eleitoral e ausência total da luta de classe real. Eles continuaram a
palrar acerca do SYRIZA como governo da “esquerda radical” da Grécia e
cumpriram suas funções de relações públicas. Quando o SYRIZA abraçou
flagrantemente os cortes mais selvagens contra os trabalhadores gregos e
seus padrões de vida afectando a vida diária, os bem pagos e distintos
professores finalmente falaram os “erros” do SYRIZA e serviram a
“esquerda radical” deste ensopado de oportunistas! Suas grandes
excursões oratórias à Grécia estavam acabadas e eles voaram para longe a
fim de apoiar outras “lutas”.
Ao aproximar-se o Verão de 2015, o primeiro-ministro Tsipras
tornou-se ainda mais próximo de toda a agenda de austeridade da UE. O
“querido Alexis” despediu o ministro das Finanças Varoufakis, cujo
histrionismo havia irritado o ministro das Finanças da Alemanha. Euclid
Tsakalotos, outro “radical” de esquerda, substituiu-o como ministro das
Finanças, mas revelou-se ser um maleável subordinado de Tsipras,
desejoso de implementar toda e qualquer das medidas de austeridades
impostas pela UE sem as travessuras.
Em Julho de 2015, Tsipras e o SYRIZA aceitaram um duro programa de
austeridade ditado pela UE. Isto rejeitava todo o Programa de Salónica
do SYRIZA, proclamado no ano anterior. A totalidade da população e os
membros da base do SYRIZA estavam cada vez mais irados, exigindo um fim à
austeridade. Apesar de aprovarem um “cinturão de austeridade” para a
sua base eleitoral de massa durante o Verão de 2015, Tsipras e sua
família viviam no luxo numa villa generosamente emprestada por um plutocrata grego, longe das filas da sopa e barracas dos desempregados e pobres.
O primeiro-ministro Alexis Tsipras implementou políticas merecedoras
do prémio “Traidor do Ano”. A sua estratégia foi dúplice. Em 5 de Julho
de 2015 ele convocou um referendo sobre a aceitação das condições do
bail-out da UE. Pensando que os seus apoiantes “favoráveis à UE”
votariam “Sim”, ele tencionava utilizar o referendo como um mandato para
impor novas medidas de austeridade. Tsipras julgou mal o povo: A sua
votação foi um repúdio esmagador ao duro programa de austeridade ditado
pelos oligarcas de Bruxelas.
Mais de 61% do povo grego votou “não” ao passo que apenas 38%
votaram a favor das condições do bail-out. Isto não se limitou a Atenas.
A maioria em todas as regiões do país rejeitou os ditames da UE – um
resultado sem precedente! Mais de 3,56 milhões de gregos exigiram um fim
à austeridade. Tsipras estava “confessadamente surpreendido” … e
desapontado! Ele secretamente e estupidamente pensava que o referendo
lhe daria carta branca para impor austeridade. Quando os resultados da
votação foram anunciados afixou a sua habitual cara risonha.
Menos de uma semana depois, em 13 de Julho, Tsipras renunciou aos
resultados do seu próprio referendo e anunciou o apoio do seu governo ao
bail-out da UE. Talvez para punir os eleitores gregos, Tsipras apoiou
um esquema de austeridade ainda mais duro do que aquele rejeitado no seu
referendo! Ele cortou drasticamente pensões públicas, impôs maciças
altas regressivas de impostos e cortou US$12 mil milhões de serviços
públicos. Tsipras concordou com o infame “memorando Judas” de Julho de
2015, o qual aumentavam o regressivo imposto geral sobre o consumo (IVA)
para 23%, um imposto de 13% sobre alimentos, um aumento agudo nos
custos médicos e farmacêuticos e de taxas de instrução, além de adiar a
idade de reforma em cinco anos, para a idade de 67.
Tsipras continuou a sua violência “histórica” sobre o sofredor povo
grego ao longo de 2016 e 2017. O seu regime privatizou mais de 71.500
propriedades públicas, incluindo o património histórico. Só a Acrópole
foi poupada do leilão em bloco.. por enquanto! O desemprego resultante
levou mais de 300 mil gregos educados e qualificados a emigrarem.
Pensões cortadas para 400 euros levaram à desnutrição e a um triplicar
de suicídios.
Apesar destas grotescas consequências sociais os banqueiros alemães e
o regime de Angela Merkel recusaram-se a reduzir os pagamentos da
dívida. A abjecção de Tsipras não teve efeito.
Altas agudas de impostos sobre combustíveis agrícolas e transporte
para ilhas turísticas levaram a manifestações constantes e greves em
cidades, fábricas, campos e auto-estradas.
Em Janeiro de 2017 Tsipras perdeu metade do seu eleitorado. Ele
respondeu com repressão: asfixiando com gás e espancando gregos idosos
que protestavam contra suas pensões de pobreza. Três dúzias de
sindicalistas, já absolvidos pelos tribunais, foram reprocessados pelos
promotores de Tsipras num vicioso “julgamento espectáculo”. Tsipras
apoiou os ataques dos EUA-NATO à Síria, as sanções contra a Rússia e os
acordos de energia e militares de mil milhões de dólares com Israel.
Excepto durante a ocupação nazi (1941-44) e a guerra civil
anglo-grega (1945-49), o povo grego não havia experimentado um declínio
tão precipitado dos seus padrões de vida desde o tempo dos otomanos.
Esta catástrofe ocorreu sob o regime Tsipras, vassalo da oligarquia de
Bruxelas.
Turistas académicos de esquerda da Europa, Canadá e EUA têm
“aconselhado” o SYRIZA a permanecer na UE. Quando as consequências
desastrosas dos seus “conselhos políticos” se tornaram claros… eles
simplesmente voltaram-se ao aconselhamento de outras “lutas” com os seus
falsos “fóruns socialistas”.
Conclusões
As traições de líderes “de esquerda” e “esquerdistas radicais” são
devidas parcialmente às suas práticas comuns como políticos a fazerem
acordos pragmáticos nos parlamentos. Em outros casos, antigos líderes
extra-parlamentares e guerrilheiros foram confrontados com isolamento e
pressão de regimes “de esquerda” vizinhos para submeterem-se a “acordos
de paz” imperiais, como no caso das FARC. Enfrentando o fortalecimento
maciço dos exércitos dos oligarcas, abastecidos e aconselhados pelos
EUA, eles dobraram-se e traíram seus apoiantes de massa.
O quadro eleitoral dentro da UE encorajou a colaboração de esquerda
com classes inimigas – especialmente banqueiros alemães, potências da
NATO, militares dos EUA e o FMI.
Desde as suas origens, o SYRIZA recusou-se a romper com a UE e sua
estrutura autoritária. Desde o seu primeiro dia de governo, ele aceitou
mesmo as dívidas pública e privadas mais comprovadamente ilegais
acumuladas pelos regimes corruptos do PASOK e da Nova Democracia. Em
consequência, o SYRIZA foi reduzido a mendigar.
Inicialmente o SYRIZA poderia ter declarado a sua independência,
salvado seus recursos públicos, rejeitado dívidas ilegais dos seus
antecessores, investido suas poupanças em novos programas de emprego,
redefinido suas relações comerciais, estabelecido uma divisa nacional e
desvalorizado o dracma para tornar a Grécia mais flexível e competitiva.
A fim de romper as cadeias de vassalagem e da oligarquia estrangeira
que impuseram a austeridade, a Grécia precisaria sair da UE, renunciar à
sua dívida e lançar uma economia socialista produtiva baseada em
cooperativas auto-administradas.
Apesar do seu mandato eleitoral, o primeiro-ministro grego Tsipras
seguiu o caminho destrutivo do líder soviético Mikhail Gorbachov,
traindo seu povo a fim de continuar debaixo de uma aliança cega de
submissão e decadência.
Se bem que vários líderes ofereçam árdua competição para o “Prémio
Traidor do Ano”, a traição de Alexis Tsipras tem sido mais longa, mais
profunda e continua até os dias de hoje. Ele rompeu mais promessas e
reverteu mais mandatos populares (eleições e referendos) mais
rapidamente do que qualquer outro traidor. Além disso, nada excepto uma
geração permitirá aos gregos recuperar sua esquerda política [NR] . A esquerda tem sido devastada pelas mentiras monstruosas e a cumplicidade dos antigos “críticos de esquerda” de Tsipras.
As obrigações de dívidas acumuladas pela Grécia exigirão pelo menos
um século para terminarem – se o país puder mesmo sobreviver. Sem
dúvida, Alexis Tsipras é o “Traidor do Ano” por unanimidade!!!
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